Entrei na República Popular da China, pela primeira vez, em
Outubro de 1987.
A RPC era outra, bem diferente (nos centros urbanos pelo
menos) do que é hoje. O caminho a fazer julgo que, nessa primeira vez, foi para
Cantão.
Uma viagem que hoje se faz em menos de 3h a partir do sítio
onde estou, na altura levou mais de 6h. Tinha 9 anos mal feitos, e lembro-me da
carrinha (bem, a carcaça de uma carrinha que ainda andava), dos solavancos em
estrada ainda de terra batida na maioria do caminho, ladeada de arrozais e
búfalos. Das paragens inusitadas, para deixar sair ou entrar passageiros, os
quais se faziam acompanhar das mais estranhas bagagens aos meus olhos na
altura. Apesar de pouco viajada por essa altura (a minha viagem mais longa até então
tinha sido nesse mesmo verão, à Madeira), a ideia de galinhas a serem postas no
topo de uma carrinha não encaixavam exactamente no meu conceito – quem diria,
aos 9 anos com conceitos de carreiras de autocarros!.Lembro-me da curiosidade dos olhares face a 3 pessoas que não encaixavam nos moldes de quem nos observava, muito menos uma rapariga de cabelos encaracolados, ruivos, acompanhada de um senhor que podia ser quase mouro e de uma senhora igualmente arruivada. E dos sorrisos. Daqueles sorrisos, que pese embora não partilhássemos qualquer língua comum para comunicar, diziam tudo.
Dessa viagem, ficaram muitas memórias que até hoje perduram. Mas dessa primeira viagem ficou também a imagem da bruma, que viria a fazer parte do meu quotidiano, de então e de hoje (ainda que hoje mais poluição do que bruma), e de uma estranha ginástica que vim a aprender que não era ginástica, mas sim Tai chi, uma arte marcial.
Hoje, as imagens que aqui coloco levaram-me de volta a esse
ano de 1987, onde começaram tantas mudanças na minha vida e que iniciou o
período que viria a moldar muito do que é a minha concepção actual do mundo.